Muitos estudantes não sabem como escrever a introdução e acabam se dedicando a temas irrelevantes. Para auxiliá-los a evitarem excessos e a se comunicarem de maneira mais assertiva, reuni as principais características de uma boa introdução.
De maneira geral, a introdução reúne o conhecimento prévio, enquanto os resultados, discussões e conclusões revelam o que há de novidade sobre o tema. A menos que se trate de um estudo de revisão, os leitores estarão mais interessados em suas descobertas do que nos discursos de outrora. Por isso, escreva a introdução de maneira sintética e criteriosa, abordando somente o que for necessário.
Para que serve a introdução?
A introdução serve para justificar o objetivo. Na prática, antes de propor um projeto de pesquisa, a literatura deve ser revisada rigorosamente a fim de se identificar limitações, inconsistências e perguntas que ainda não foram respondidas.
Por analogia, imagine que os estudos formem uma parede cheia de tijolos, como mostra a figura abaixo. Repare que existem espaços vazios que simbolizam as incertezas da comunidade acadêmica. É justamente na introdução que você deverá apresentar as lacunas do seu campo de pesquisa, as quais inevitavelmente levarão ao objetivo.
É indiscutível que em nossa prática científica tentamos preencher lacunas ou buscamos explorar evidências anteriores a fim de interpretá-las, reproduzi-las ou até mesmo refutá-las. No entanto, devemos interpretar com parcimônia a analogia da parede de tijolos, pois as descobertas não são necessariamente lineares ou acumulativas.
Exemplos que ajudam a entender a lógica da introdução
- Estudos anteriores usaram a técnica X no tratamento da disfunção erétil, mas a técnica Y parece ser mais vantajosa pelos motivos A, B e C. Sabendo que a técnica Y ainda não foi testada em humanos, o objetivo do estudo será testar a segurança e a eficácia da técnica Y no tratamento da disfunção erétil em homens adultos.
- Em modelos animais, a proteína X foi relacionada à formação de emaranhados neurofibrilares, com repercussões negativas sobre o funcionamento cognitivo. O comportamento dessa proteína foi investigado em adultos jovens, mas ainda não foi compreendido em idosos. Diante disso, o objetivo do estudo será verificar se existe associação entre a proteína X e o desempenho cognitivo em pessoas idosas.
Dica
Se a introdução for bem construída, então o leitor conseguirá prever o objetivo. Por outro lado, se a introdução não for bem elaborada, ficará a impressão de que o objetivo surgiu de maneira abrupta, sinalizando inconsistência na argumentação.
Essência
A essência da introdução está na relevância e na inovação. Ou seja, por quais motivos o seu estudo é importante? Qual é a novidade? Perceba que esses questionamentos dialogam com os limites do conhecimento prévio. Isso significa que após realizar uma boa revisão, você provavelmente estará apto a propor um estudo original, relevante e inovador. ATENÇÃO: a falta de estudos não é um argumento suficiente, já que pode indicar desinteresse da ciência pelo tema (Volpato, 2016).
Preciso incluir uma revisão histórica na introdução?
Depende. A revisão histórica ajudará a justificar o objetivo? Adianto que na maioria das vezes isso é completamente desnecessário. Afinal, já imaginou se todo estudo da física começasse contando a história das leis de Newton?
Devo criar um tópico exclusivo para a justificativa?
Não há necessidade, pois esse é justamente o papel da introdução (Volpato, 2015).
Projeto de pesquisa e trabalho de conclusão de curso
Em projetos de pesquisa a introdução tende a ser mais extensa, pois reúne toda a argumentação em busca de apoio financeiro, ingresso na pós-graduação, aprovação junto ao Comitê de Ética etc. Em trabalhos de conclusão de curso algumas faculdades passaram a adotar o formato de artigo, enquanto outras adotam um modelo clássico. Ressalto que a introdução deverá abordar os aspectos mencionados neste artigo, independentemente do modelo ou finalidade.
Recapitulando
- Apresentar as lacunas relacionadas ao tema;
- Enfatizar a relevância e a inovação do estudo;
- Justificar o objetivo.
Referências
Volpato, G. L. (2015). O método lógico para redação científica. Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde, 9(1).
Volpato, G. L. (2016). Dicas para redação científica. Editora Best Writing.